terça-feira, 19 de outubro de 2010

Pôres-de-sol

Minha única diversão era procurar lugares de onde eu pudesse ver, nos fins de tarde, o pôr-do-sol. Não perdia um. No topo de edifícios, nas praças, nos morros. Via a cidade, o céu e o avermelhado do pôrdo-sol. Não sei por que fazia aquilo. Aliás, eu nunca sabia por que fazia uma porrada de coisas. Mas eu gostava de ver as muitas tonalidades que o céu ganhava nos fins de tarde. Gostava principalmente de ver o sol afundando no horizonte. “O sol não é apenas novo a cada dia, mas sempre novo continuamente“, era o que estava pichado numa pracinha. O universo em expansão. Assim são as coisas.
Um dia eu quis mais, muito mais. Fui ao mirante do Pico do Jaraguá. Lá eu via tudo. A cidade imóvel e o céu se transformando a cada minuto. As luzes da cidade piscando, a luz do sol explodindo. As ruas sem saída, o infinito do universo se expandindo contra todas as forças. A lei da desordem, da perfeição, do equilíbrio, da entropia. Eu desejava ser uma parte dele. Eu gostaria de ser tudo. Menos um sujeito perdido numa cidade perdida num deserto de tijolo. A cidade me deixava vazio. O Universo, não. Entropia... Perfeição.

Trecho do livro Blecaute, de Marcelo Rubens Paiva

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